Vida

A leitura está na mesa; um livro da Lygia que quero ler até o fim, com a intensidade que há muito tempo não tenho. O problema é que as letras me roubam vez ou outra. Li um trecho que me pareceu familiar " a droga excita a pupila com a mesma força do medo". Eu não posso me esquecer do dia em que não conseguia acalmar meu coração e que meus olhos não fechavam.
Estive tão confusa, dividida entre uma fraqueza que vinha da dor, e a força gerada pela vergonha de não pertencer mais a mim. Estive perdida entre sentimentos tão aterrorizantes que ninguém pode imaginar o que senti naquelas horas de desespero.

Estive entre duas pessoas que habitam em mim; aquela que se encolhe como criança e fecha os olhos querendo que tudo não passe de um pesadelo; a covarde, a medrosa, a fraca. E aquela que tem tanta sede e fome por tudo que é capaz de deixar tudo para trás por algo que acredita. Aquela que um dia deixou uma vida construída por base sólidas, verdades absolutas e respeito por uma estrada desconhecida e solitária.

Preciso voltar a leitura, mas é forte o sentimento que essa leitura desperta em mim. Sou muito humana e isso me anima. Não vou nunca mais me deixar confundir, não vou nunca mais querer fugir de uma vida tão surpreendente como a minha. Não vou mais fugir da dor, quero sentir tudo a que tenho direito. Estou viva e meus olhos estão abertos e atentos a tudo. É isso que importa agora.

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