Bendito o tempo da solidão

Hoje alguém disse:
"Nossa! Ainda bem que você não é mais aquela adolescente solitária"

Achei estranho o comentário e não concordei; fiquei apenas olhando para ela tentando explicar porque esse tempo não pesava para mim.

Poderia ter usado o texto do meu amigo Rubem Alves. Ele é homem que entende de solidão, e acho que ela a sentiu várias vezes em sua vida, mas nem sempre foi pesado. Ele é um velho que acordou menino e aprendeu que podemos fazer da solidão um tempo de descobertas, um alívio para a vida cotidiana.

"A solidão da criança é mais secreta que a solidão do adulto"

Foi isso que Rubem fez; voltou a ser criança e provou dos momentos de solidão como a criança que festeja um dos poucos momentos em que estando sozinha tem o direito de entrar no seu próprio mundo sem que ninguém interfira.

Enquanto ela me falava do meu jeito sombrio e distante...eu sorria pensando em como explicar para ela que foi nesse momento que ocorreu minha luta maior. Uma guerra entre a solidão de criança e a adulta. Ora eu provava de uma solidão criativa, produtiva, uma solidão que me abri as portas para o mundo das palavras, e das fábulas, outros diriam. Ora essa solidão me cortava por dentro trazendo à boca um gosto de total abandono.

Era por isso que não pesava tanto. Era uma guerra equilibrada...mas não deixava de ser guerra.

Eu tentei explicar, mas era tarde para ela entender.

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