O último olhar

Geralmente eu erro na escolha de filmes. Desta vez eu fiquei pasma por não ter lido a sinopse do filme. Fui assistir porque gosto muito da atriz Kirsten Dunst, e também porque acho o ator Orlando Bloom muito charmoso. "Tudo acontece em Elizabethtown" é um filme que faz as pessoas refeletirem e mexeu muito comigo.
O filme fala de perdas, e só agora eu sei o que significa. E a cena mais forte para mim é quando ele fala do último olhar de um homem.
Lembrei-me de quando vi meu irmão pela última vez e como fui a última pessoa a ver seus olhos abertos. Lembrei do seus olhos, e o que diziam para mim, a súplica para que não o deixassem sozinho. Ele não falou, mas pude ver pelo seu olhar como ele estava perdido, e que tinha medo de que fosse sua última vez ...
Vi o último olhar de um homem e nunca vou me esquecer, foi o olhar do meu irmão, do meu irmão dois anos mais velho, do chefe das brincadeiras, do menino de quem apanhei muitas vezes, o mesmo que roubou as chaves do meu diário, que riu dos meus tombos e tropeços, que na vida adulta acreditou em meus sonhos e me apoiou.
Vi o último olhar de um homem, e nesse tempo todos os seus medos e incertezas estavam estampados em sua face pálida. Nessa hora me senti a pessoa mais impotente do mundo, e ao mesmo tempo entendi que só Deus pode certas coisas.
Vi o último olhar de um homem, como se fosse de um filho nos meus braços pedindo por ajuda. Toquei no seu rosto, em seus cabelos e orei a Deus que o livrasse.
Entendi a fragilidade da vida, a incerteza das coisas humanas, e a importância de se crer no infinito e no eterno.

Preciso parar de pensar nesse mundo, preciso parar de me preocupar tanta com o tempo e o dinheiro. Preciso conhecer todos os olhares de todas as pessoas que amo, conhecer cada detalhe, viver momentos preciosos juntos. Quero apenas que meu último olhar possa transmitir a certeza de que eu vivi ao lado dos meus amados e que não perdi nenhuma oportunidade.

Irmão Márcio...sinto sua falta.

Leticia Calhau.