Amor...
"O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles."
Esse é um fragmento do conto AMOR de Clarice Lispector. Esse conto ficou marcado na minha memória e faz diálogo com um momento quase epifânico que vivi.
Já escrevi sobre a Rua Santa Fé ,que faz parte do meu trajeto diário da faculdade para casa. Foi nessa rua de nome Santa Fé que conheci a mulher - imagem ou a imagem da mulher que mexeu com minha comodidade e conformismo.
A mulher que vive nas escadarias do Fórum. Na verdade meu momento de epifania não foi ver uma mulher idosa morando nas escadas do Fórum do Méier, na verdade o que me torturou por horas, dias e semanas foi em um belo dia não seguir minha rotina de olhar pela janela a mulher nas escadarias. O fato intrigante é que não segui minha rotina de falsa sensível por me entreter com a leitura de "O amor Segundo G.H"
O agente de toda essa confusão ou mesmo revelação foi a prosa da Clarice ...
Percebi o quanto me perdi ...minha sensibilidade não passa de palavras, quando antes eu parava e ficava conversando com um morador de rua, ou dava alimento para alguma criança. Parei por um momento e percebi que em meio ao mundo literário, e mediante às exigências da sociedade eu perdi o que tinha de mais precioso...os olhos e a atitude de um poeta de Cristo.
Olha para trás e vejo o que me fazia viva...poder dar esperança, ajudar, acolher, alimentar, cuidar. E eu já fiz tanto isso.
Lembro de uma madrugada em que reunimos um grupo e recolhemos muitas crianças na estação de Campo Grande...lembro de cada cena...da caminhada que fizemos até a igreja, das palavras de amor, do banho que demos nas crianças e na sopa quente. As sacolas de roupa, os sapatos que separamos para cada um, que vestimos nos menores. A alegria e o sorriso no rosto de quem não tem mais esperanças...
Aquela mulher na escadarias me fez perceber o quanto distante eu me tornei...a solidariedade, o abandono e a solidão passaram a fazer parte apenas da minha ficção, mas na realidade, a ação, a prática do amor é que me faz viva, realizada.
Lembrei de um dia de inverno em que uma jovem me abordou pedindo um casaco - estava realmente frio - e eu disse que não tinha. De fato não havia separado nada para dar aos pobres. Quando ela foi embora ...senti o frio do descaso tomando todo o meu ser. De repente me bateu desespero e peguei um casaco no meu armário e fui correndo atrás da jovem. Eu não conseguia encontrá-la e isso me deseperava, quando já estava chorando me deparei com ela. Naquele dia eu soube o que era o amor ao próximo...senti a sua dor, o seu frio, a tristeza do descaso.
Aquela mulher nas escadarias fez com que eu encarasse a minha face ao espelho, o meu descaso. Reconhecer que a fé sem obras é morta e que minha poesia, meu discurso sem a ação é vazio.
A solidariedade, o amor, a caridade em Cristo é poder fazer pelo outro o que faria por você.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles."
Esse é um fragmento do conto AMOR de Clarice Lispector. Esse conto ficou marcado na minha memória e faz diálogo com um momento quase epifânico que vivi.
Já escrevi sobre a Rua Santa Fé ,que faz parte do meu trajeto diário da faculdade para casa. Foi nessa rua de nome Santa Fé que conheci a mulher - imagem ou a imagem da mulher que mexeu com minha comodidade e conformismo.
A mulher que vive nas escadarias do Fórum. Na verdade meu momento de epifania não foi ver uma mulher idosa morando nas escadas do Fórum do Méier, na verdade o que me torturou por horas, dias e semanas foi em um belo dia não seguir minha rotina de olhar pela janela a mulher nas escadarias. O fato intrigante é que não segui minha rotina de falsa sensível por me entreter com a leitura de "O amor Segundo G.H"
O agente de toda essa confusão ou mesmo revelação foi a prosa da Clarice ...
Percebi o quanto me perdi ...minha sensibilidade não passa de palavras, quando antes eu parava e ficava conversando com um morador de rua, ou dava alimento para alguma criança. Parei por um momento e percebi que em meio ao mundo literário, e mediante às exigências da sociedade eu perdi o que tinha de mais precioso...os olhos e a atitude de um poeta de Cristo.
Olha para trás e vejo o que me fazia viva...poder dar esperança, ajudar, acolher, alimentar, cuidar. E eu já fiz tanto isso.
Lembro de uma madrugada em que reunimos um grupo e recolhemos muitas crianças na estação de Campo Grande...lembro de cada cena...da caminhada que fizemos até a igreja, das palavras de amor, do banho que demos nas crianças e na sopa quente. As sacolas de roupa, os sapatos que separamos para cada um, que vestimos nos menores. A alegria e o sorriso no rosto de quem não tem mais esperanças...
Aquela mulher na escadarias me fez perceber o quanto distante eu me tornei...a solidariedade, o abandono e a solidão passaram a fazer parte apenas da minha ficção, mas na realidade, a ação, a prática do amor é que me faz viva, realizada.
Lembrei de um dia de inverno em que uma jovem me abordou pedindo um casaco - estava realmente frio - e eu disse que não tinha. De fato não havia separado nada para dar aos pobres. Quando ela foi embora ...senti o frio do descaso tomando todo o meu ser. De repente me bateu desespero e peguei um casaco no meu armário e fui correndo atrás da jovem. Eu não conseguia encontrá-la e isso me deseperava, quando já estava chorando me deparei com ela. Naquele dia eu soube o que era o amor ao próximo...senti a sua dor, o seu frio, a tristeza do descaso.
Aquela mulher nas escadarias fez com que eu encarasse a minha face ao espelho, o meu descaso. Reconhecer que a fé sem obras é morta e que minha poesia, meu discurso sem a ação é vazio.
A solidariedade, o amor, a caridade em Cristo é poder fazer pelo outro o que faria por você.
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